sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Coragem. Ou talvez não.

Faz hoje um ano que cometi o acto mais arrojado da minha vida. Para uns, uma verdadeira loucura, para outros, uma audácia interdita à maioria das pessoas. Entre os apoios, os conselhos, as críticas, tinha a certeza que havia uma palavra que não saía da cabeça de todos. Coragem.

No dia 15 de Outubro de 2013, fechei a porta de um gabinete em pleno centro de Lisboa, entreguei a chave de um carro bastante acima da média e pus fim a um emprego certo, com ordenado pago, religiosamente, a tempo e horas.

Eu, que dediquei a minha vida pós-estudante a construir uma carreira, que adorava a vida que ela me permitia, bati com a porta. Assim, em pouco mais de 2 meses. Vim-me embora. E foi talvez um dos dias mais felizes da minha vida.

Odeio relações sem entrega, sem comprometimento, sem cumplicidade. Estava nessa fase com o meu emprego. OK, eu sei que é um mal que afecta a maioria das pessoas (ouvi isto tantas vezes!!!). E isso é bom, desde quando? Não devemos aspirar ter um trabalho que nos completa, que nos orgulha, que transforma as segundas-feiras nos melhores dias da semana????

Com um projecto próprio na manga, saí em busca disso mesmo.

Passou um ano e a minha empresa ainda está em construção. Já devia estar a funcionar em pleno?Sim, já devia. Já devia ter um site, cartões de visita, página de Facebook, clientes, muitos clientes? Si, já devia. Ou não. Já não sei.

Durante este tempo, já passei por momentos de angústia, de total desorientação. Já chorei, já me questionei, já me isolei de amigos só para não ter de responder a perguntas para as quais não tinha resposta. 

Há uns tempos atrás, esbarrei num texto. " How quitting my corporate job for my startup dream f*cked my life up", era o título. Primeiro pensamento: "Porra! Fizeste burrada, menina Rita! Estás lixada!"  Mas como eu cometi um acto corajoso, sou, portanto, uma uma corajosa  e ia ler o texto na íntegra, firme e cheia de maturidade para aceitar o meu total falhanço.

Acabei de lê-lo sem força nas pernas e com os olhos cheios de lágrimas. Estava sentada numa cafetaria no Terminal do Campo Grande, à espera para tirar o Passe, com 70 senhas à minha frente. E a vontade de tive, naquele momento, foi de fugir. Mas eu sou uma corajosa, por isso continuei sentada e esperei, pacientemente, que chegasse a minha vez.

Hoje, faz um ano que tive o dia mais feliz da minha vida. Querem saber porquê? Porque aqui, percebi que não era corajosa, era, tão somente, alguém que resolveu procurar alternativas, resolveu testar-se, resolver sair da sua zona de conforto e perceber o que existia no mundo lá fora. E só isso faz de mim uma pessoa muito mais feliz.


P.S. -Já fora de tempo, achei que devia a este grupo fantástico, mais um testemunho. Ao Ricardo, a minha consideração e o respeito pelo tempo que nos dispensou e o maior dos agradecimentos pelos ensinamentos que nos transmitiu. Escrevo de um quarto de hospital, onde estou e que me impediu de terminar o curso, mas como sou corajosa, aqui estou, já completamente fora de horas e quase às escuras a abraçar-vos e a desejar partilhar convosco uns mega blogues, cheios de sucesso! O meu e os vossos!!!




quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Quem trabalha com Paixão é assim

Quando se soube que O Arrumadinho ia dar formação sobre como criar um blogue de sucesso, houve um imenso sururu. Que estava a precisar de dinheiro, que estava desesperado (não sei bem porquê. Outra vez o dinheiro, talvez), que isto de ter blogues de sucesso não é coisa que se ensine, tem-se e pronto (deve ser por magia), que os alunos eram uns desesperados (mais uma vez, não sei porquê. Fama, será?). Enfim, o certo é que ultrapassou a lotação dos desesperados, ou não, por saber como se faz um blogue e não houve uma viagem Lisboa/Cascais, em que a minha cabeça não viesse a fervilhar com todas as ideias e chamadas de atenção tão básicas como justificar um texto, mas que nos fazem quer fazer melhor. Que nos fazem querer fazer/acontecer. Acima de tudo o que o Ricardo, O Arrumadinho nos passou, me passou foi uma imensa paixão e dedicação por tudo aquilo que faz.

São três da manhã e estou sentada a escrever este post. Queria tê-lo escrito quando cheguei a casa da aula. Passava pouco da meia noite e tinha Mi Amor e a Guernica à minha espera. Dei-lhes atenção, contei como foi a última aula, que comemos uns ovos verdes maravilhosos feitos pela Catarina acompanhados de um espumante escolhido pelo Luís especialmente para a ocasião. Que gostaram do brownie que fiz e que o Luís também teve a atenção de levar um vinho do Porto delicioso para harmonizar com o sabor do chocolate. Contou-me como foi o resto do dia. Fomos dormir perto da uma. Há pouco tive de ligar o computador e escrever. É difícil dormir quando queremos contar ao mundo que há pessoas do caraças e que durante nove dias estiveram reunidas numa sala quatorze.

Apesar de serem três da manhã este texto, só será publicado de manhã. Às oito e cinquenta e cinco mais precisamente. E porquê? Terão de fazer o curso para saber.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Count down

Estamos em contagem decrescente para o final do curso de 'Como criar um blogue de sucesso'. O que aprendemos? O que correu bem? O que podia ter corrido melhor? Quem vai conseguir fazer disto o seu negócio?
Estas são apenas algumas das questões que agora nos passam pela cabeça e que com o tempo iremos ter as respostas. Boa sorte, à turma!


quarta-feira, 8 de outubro de 2014

“Hype Paradise Events & Management ” - Capítulo 1

A minha vida está virada de pernas para o ar. Passo os meus dias num rodopio que nunca sonhei que fosse acontecer. Mas finalmente! Já estava na hora.

Acabei o meu estágio na Acting Out (departamento de eventos do Grupo Impresa) no final de Julho e, até há duas semanas para cá, nada demais se passava na minha vida. Até que tive de pôr um fim à inércia e pensar duas vezes o que realmente queria. Até que tive um ideia. Mas uma daquelas ideias em que até aparece a lâmpada em cima da cabeça. Porque não começar a minha própria agência de eventos e management? Estava farta de enviar currículos. Trabalhar para os outros não era, e não é, de todo o que eu quero.

O Instagram @hypeparadise está a funcionar desde Maio, altura em que tinha acabado de organizar os Globos de Ouro e que o trabalho era diminuto. Demasiado tempo livre durante o dia levaram a que eu criasse esta conta onde ia pondo as imagens que me inspiram. Ao passar dos meses, a marca foi ficando cada vez mais forte, com o número de seguidores a aumentar exponencialmente (tendo hoje quase 5500), o que me levava a pensar que todo o esforço tinha de ser aproveitado.

Fez-se luz. Comecei a divulgar ao meu mundo o novo projecto e não estava, de todo, à espera da receptividade que as pessoas tiveram ao mesmo. A quantidade de amigos a quererem associar-se ao meu novo bébé foi enorme. Desde há duas semanas para cá tenho passado os meus dias em reuniões e cafés com diversas pessoas que me querem ajudar. E têm sido uma valente ajuda.

Começando pelo ínicio, hoje agencio três bloggers: a Sofia, a Inês e a Mafalda, que são três meninas que ainda vão crescer muito na blogosfera. A parte dos eventos ainda está a ser definida visto que o mundo dos eventos é muito vasto. Ainda há muito para ser pensado.

Todos estes aspectos ainda estão a ser deliniados. Mas está a dar-me um gosto enorme ter partido nesta aventura.


Rita

Mudar de visual

Quem não gosta, de vez em quando, de mudar de visual?
Confesso que já estava cansada de ver o nosso blog com o layout pré-definido do blogger, por isso resolvi testar vários templates um pouco mais elaborados. No final, escolhi o 'Sorbet'.
Tive que tirar alguns botões (Categorias, Redes Sociais, Contactos, etc) porque nós ainda não temos conteúdo em todos os blocos. Resultado, apareciam espaços vazios.

Há templates bem engraçados, cada um com a sua finalidade. Aqui ficam alguns exemplos que gostei. Os temas são todos gratuitos. (site pesquisado - vale a pena espreitar).

Ah, e por favor, coloquem sempre uma foto nos posts para que o layout fique mais equilibrado.  Se não gostarem deste já sabem onde encontrar outros mais ao vosso gosto. Have fun!

(Este foi o vídeo que vi para perceber como fazer a mudança do layout)


O template que serviu de base ao actual blog (fiz pequenas modificações).

Aqui anuncia-se a abertura de um blog (site), para breve, com link imediato para as redes sociais onde a empresa já está presente.

Com contagem decrescente, ao segundo, criam expectativa para vermos o que vai acontecer...

Um exemplo simples de um business card com  info adicional de outras redes.


Escolhendo a foto de fundo certa, acho que tem atitude para um 'coming soon' de um blog de moda.
Este template, com grafismo de revista, é dos meus templates preferidos para um blog/diário.


segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Sem eira nem beira

Há um corredor imenso que entre as oito da manhã e as oito da noite se enche da multidão regurgitada e ao fim do dia engolida pelos autocarros nas paragens da Gare do Oriente. A multidão passa, ruidosa e apressada, como formigas com destino certo. Às dez da noite chegam os reais habitantes, acompanhados dos inseparáveis sacos e carrinhos com que percorrem as ruas diariamente, e esse mesmo corredor ganha outra vida, outro ruído, vozes que sussurram, falam baixo, falam para dentro.
Já passava das onze da noite quando passei pelo dormitório silencioso, desprovido de colchões e almofadas reais, mas improvisadas em pedaços de cartão ou caixas vazias, abandonadas por alguém, em algum lugar. Ninguém olhou ou parou o que fazia para me ver passar. Faz muito tempo que apesar de frequentarmos o mesmo espaço nos movemos em realidades diferentes, paralelas, conformados a uma mútua invisibilidade.
Mas nessas camas improvisadas, dentro dos sacos-cama mais ou menos gastos espalhados com uma lógica que me é alheia, estavam pessoas, iguais a mim, cuja sorte malvada – se tal coisa existisse – ou loucura indesejada – se alguma vez desejada o fosse – lhes tomaram conta da sina e ditaram um futuro que passa pelas ruas e termina diariamente na fria curvatura branca da estação de metro.
Sem querer ver mas a querer olhar, reparei numa mão pequena nas costas de um homem de camisola azul. Era um saco-cama “de casal”. Um casal que dormia num forçado aconchego, executando uma técnica perfeita de amparo nocturno em forma de abraço. Mais à frente, uma cabeça branca dentro de um pijama axadrezado, deixava-se ver num saco-cama que teria sido castanho ou amarelo-torrado. Respirava como quem dorme tranquilo e a sono solto sem preocupação alguma. No topo do seu carrinho de compras tinha a roupa do dia, encardida do uso mas dobrada com o esmero de roupa de festa. Seria a indumentária de eleição do próximo dia e de todos que se seguissem. Não há outra.
Sem-abrigo.
Os invisíveis que saltam aos olhos de quem não quer ver, que gritam aos ouvidos entupidos da cera egocêntrica que nos afasta e torna indiferente a seres humanos iguais a nós. Iguais a mim.
Sem eira nem beira.

“De acordo com os dados da Nações Unidas em 2005 havia 100 milhões de sem abrigo. Passados 9 anos ainda não temos números oficiais. Porém, há várias associações, organizações e igrejas que disponibilizam apoio, alimentação e abrigo; é fácil encontra-los online. Se puder ajudar, faça-o.” (texto das Nações Unidas)

sábado, 4 de outubro de 2014

A mala de luxo

Apesar de desconhecer tal episódio, acompanhei atentamente a discussão. No dia seguinte fiz a minha própria investigação: vi o vídeo e a entrevista. Pelo meio, vociferei alguns palavrões. Se tivesse que reduzir a questão ao número de caracteres permitidos numa determinada rede social, creio que o faria assim: “Jovem deseja poder comprar uma mala de luxo e é humilhada publicamente como se ela fosse alheia, cúmplice e responsável pela crise do país.”

A limitação de caracteres é excelente pois desta forma não teria sequer de mencionar a forma de falar da jovem. Compreendo que pudesse dar lugar a algum humor, que na verdade eu próprio faria, mas e então o que dizer de inúmeros outros ditos “comunicadores” que todos os dias preenchem as rádios e televisões? Aposto que num instante todos conseguiriam identificar uma série de pessoas com uma forma de falar no mínimo curiosa, mas que nem por isso deixam de ser apostas fortes na comunicação. E uma boa parte dessas, pagas com o dinheiro dos nossos impostos.

O problema principal parece por isso estar na vontade da jovem. Desejo esse, que a própria admite ser consumista, e que teria de juntar dinheiro para poder comprar a mala. O que é que aqui não é claro? O país está em crise, mas uma jovem não pode “sonhar” ter um determinado objecto? Sonhar (ou trabalhar para o conseguir) é uma ofensa assim tão grande? E essa dita futilidade só poderá vir de quem não tem noção e que certamente vive numa família abastada e sem problemas económicos?

Este é um daqueles temas nos quais é muito fácil mergulhar. A tentação é quase sempre a mesma: apontar que os outros não têm noção da realidade. Acusar, denegrir, ofender..! Se eu me metesse neste tema, rapidamente me afogaria nas minhas próprias palavras, porque estas seriam imensas. E que fique bem claro, que nenhuma dessas palavras, seria em direcção à jovem da mala.

O desafio que temos sobre as mãos está na definição do que a realidade é. Para mim, a realidade é uma água muito turva na qual todos os dias nos banhamos. É impossível ver quem é quem dentro desta água escura. Há até quem continuamente remexa o lodo do fundo de forma a manter a água o mais opaca possível. Falar de realidade é muito fácil, conhecê-la é outra coisa. Isso requer mostrarmos quem somos e qual o nosso real contributo para essa água turva. E não serão assim tão poucos aqueles que agitam esse lodo. 


Espero mesmo que ela tenha conseguido comprar a mala.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Todos fazemos cocó

Não sei se é da evolução das redes sociais, ou do acesso a mais informação, ou da pura inveja alheia, mas tenho assistido a um fenómeno que me choca: o ódio gratuito. 

É frequente ler posts em blogues ou páginas de facebook, comentários completamente de pura maldade a atacar sem dó nem piedade qualquer desalinho de cabelo. É algo que não compreendo e me deixa revoltada. Como é que alguém é capaz de desejar a morte, doenças, proferir insultos e outras coisas que tais a quem não conhece de parte nenhuma? É maldade pura? Estão frustradas com a sua própria vida e descarregam linchando em praça pública aqueles que não lhes agradam? 

Não podemos agradar a todos e haverá sempre alguém que não goste de nós, assim como teremos sempre aquela vizinha chata a quem termos de dar os bons dias até nos faz doer a garganta. Mas só no dia em que quem julga desta maneira doentia e cobarde cagar uma mala da Luis Vuitton, é que será melhor que nós. Ou talvez não.


Anónimo

O desalento que se vivia nas redacções era por demais evidente. Pela primeira vez desde há muito tempo, não havia uma notícia digna o suficiente para abrir o noticiário. Os directores de informação estavam por isso encurralados e teriam necessariamente de admitir que não haveria outra hipótese que não a de colocar uma notícia menor. A dúvida estaria entre o conflito Ucrânia-Rússia ou a epidemia do ébola. O valor da despesa pública seria no máximo noticiado após o intervalo. A probabilidade de uma reportagem sobre as PPP estava fora de questão. Nas redacções, nunca ninguém ninguém pensou que um dia se chegaria a este ponto, em que nada acontece de realmente importante para a vida dos portugueses. Existia até uma certa nostalgia sobre as manchetes incríveis dos últimos noticiários: "as sardinhas este ano estão mais gordas"; "escândalo no campeonato nacional de bisca dos nove"; "protesto em frente à loja da M&H por falta de leggings de cor cinza".

A denúncia anónima foi um verdadeiro rastilho de pólvora. Em menos de quinze minutos, já todos os meios de comunicação social se encontravam à porta da casa do grande banqueiro. Aquela notícia era um verdadeiro furo jornalístico e todos os noticiários estavam a postos para o directo. Às 20h01, diante das câmaras e microfones, a testemunha começou a falar: "Eu já cá trabalho vai para mais de vinte anos. Conheci inúmeras namoradas do Sr. Dr., mas esta de agora é da pele do diabo. Ela entrou aqui em casa e foi directa ao quarto dele. Ninguém a conseguiu segurar pois ela com aquele tamanho impõe o seu respeito. Começou a acusá-lo de tudo e mais alguma coisa: que ele tinha acabado com o chocolate branco, que deixou a cama por fazer, que não tinha visto o correio, etc. O Sr. Dr. ajoelhou-se e até lhe chegou a beijar os pés. Olhe, eu até chorei por ver o Sr. Dr. naquele estado. Ela então sai disparada cá para baixo para o escritório e nós fomos atrás dela. Mas não conseguimos chegar a tempo. Num instante ela tombou toda a colecção de mais de 500.000 soldadinhos de chumbo. O Sr. Dr. ficou inconsolável pois levava anos a erguer aqueles soldadinhos".

Deu-se o acaso, que nesse preciso momento, no outro lado da estrada, encontra-se uma gata siamesa a miar em cima de um plátano. Os jornalistas como já tinham o que queriam da testemunha, encaminham-se rapidamente para o plátano na tentativa de conseguir um exclusivo da gata. A testemunha, perturbada como estava, não se apercebe da debandada geral e continua o seu discurso: "Ele comprava um soldadinho por cada fraude e roubo que cometia. Eu tenho as provas de todos os crimes cometidos. O Sr. Dr. que me desculpe, mas para o bem dele estará mais protegido na prisão. Essa mulher ainda o mata, pois toda a gente sabe que o Sr. Dr. é diabético e que não pode comer chocolate branco."

Os jornalistas, após registado o drama da gata siamesa, regressam junto da testemunha para uma última questão: "- O Sr pode só dizer-nos o seu nome". A testemunha responde : "- Eu sou Anónimo Rodrigues Matias". 

Serão os anónimos assim tão anónimos quanto isso? Estou em crer que não...




  

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Lição nº 3 - As mulheres não se medem aos palmos

Levantou-se para ir buscar outra tabela e sentou-se novamente. Continuou o trabalho com o ecógrafo, mediu de novo e voltou a olhar para a tabela.
"- Vai ter que nascer. Está com os parâmetro muito abaixo do normal. Não está a crescer. Estimo que o seu peso esteja entre as novecentas e as mil gramas".
Saí do consultório directamente para o hospital. Como?! Nascer?! Já?! Mas faltam três meses! Três meses!

Foi assim que comecei a tomar contacto com uma realidade que até então desconhecia. Os bebés são para nascer de 40 semanas, 38 vá… Estava de 27 semanas. Estávamos em Julho e a miúda era para nascer apenas em Outubro.

Fui internada de imediato. Não houve sequer tempo de fazer todas as injeções  recomendadas para a maturação dos pulmões da pequena. Nasceu de cesariana às 20h do dia em que completava 28 semanas de gestação. Tinha 875 gramas e eu não tinha nenhuma noção do que me esperava.

Quando a vi nem queria acreditar. Era muito mais magra e muito mais pequena do que eu alguma vez pudera imaginar. Fiquei imóvel, sem reação e pedi imediatamente para me tirarem dali. Durante 3 dias fui incapaz de voltar à unidade, achei que era impossível que ela sobrevivesse. Não queria vê-la e muito menos decorar a sua cara. Não fosse a paciência desmedida da Enfermeira Lina Real, teria demorado muito mais do que 3 dias até conseguir voltar a ver a pequena. Quando lá cheguei colocaram-na no meu peito, pele com pele, ao mesmo tempo que me falavam do Método Canguru enquanto as minhas lágrimas escorriam. Acho que naquele momento, no meio dos fios, dos barulhos, dos apitos das máquinas e das lágrimas comecei a acreditar naquele pingo de gente. “- Olhe que afoga a miúda” dizia a Enfermeira Lina.

Depois foi um dia de cada vez. Este foi aliás o primeiro ensinamento em todo este processo: aprender a viver um dia de cada vez. Para uma pessoa como eu habituada a fazer planos para tudo e mais alguma coisa, não foi fácil. Mas consegui. Dia a dia, grama a grama. O aumento de 5 gramas era festejado até à exaustão. Houve dias em que saí do hospital com a certeza que mais dia menos dia levaria a minha pequena para casa, mas também houve dias em que o desespero me parava até os movimentos. Chegou a pesar 712 gramas. Era literalmente um palmo de gente. Para se ter uma ideia, a cabeça da Margarida era mais pequena do que uma bola de ténis e o seu coração era do tamanho de uma moeda.  Inimaginável. Depois houve a hemorragia cerebral, o canal do coração que teimava em não fechar, a transfusão de sangue, etc., etc. mas a miúda lá ia ultrapassando tudo. Quando tudo parecia negro, ela lá dava a volta.

Ninguém está preparado para acolher um bebé que se apressou para nascer. Nem os pais, nem a família, nem os amigos. “- É pequenina? olha foi uma sorte! Custou pouco a nascer”; “- Pesa pouco? Não te preocupes, tem muito tempo para crescer e engordar cá fora.” Não é por mal, eu sei, é mesmo porque não temos a noção do que é um bebé tão pequeno. Eu também não tinha. E o irmão com seis anos? como é que lhe vou dizer que a irmã nasceu, quando eu própria não acredito que ela vá sobreviver? Demorei um mês para lhe dizer. Valeu-me estarmos no  Verão e levarem-no de férias para o Sul.

Durante o internamento da Margarida, recebi várias visitas de pais de meninos prematuros. A troca de experiências é muito importante, falamos a mesma língua, pertencemos ao mesmo grupo. Nunca esquecerei, por exemplo, os pais da Maria João, um casal alentejano que veio de propósito a Lisboa num dia de Agosto apenas para me dar alento. Ver a Maria João tão bonita e bem disposta ajudou-me a acreditar. Lição número dois: acreditar sempre. Mesmo quando tudo parece não dar certo.

Com um mês a Margarida recebeu a visita do irmão e tirei-lhe a primeira fotografia. Com dois meses e pouco levei-a finalmente para casa. Tinha 1.860 gramas. Era ainda muito pequenina aos olhos de todos, menos aos meus. Para mim já era uma matulona.

Hoje passados 12 anos a Margarida entrou para o sétimo ano. É uma miúda como todas as outras da sua idade, alegre e bem disposta, fala pelos cotovelos e adora cantar. Não consigo perceber como é que pude não acreditar na sua força desde a primeira vez que a vi. 


Lição número três: as mulheres, tal como os homens, não se medem aos palmos.


A fralda grande é a normal de recém-nascido, a outra é a fralda que a Margarida usava quando nasceu.


Fotografia tirada no Hospital dias antes de ir para casa.

O dia em que a lei protege os animais domésticos... ou, então, não

Sou uma acérrima defensora dos direitos dos animais. Irritam-me as pessoas que criticam as associações de protecção dos animais, e as pessoas que se preocupam com eles, com argumentos do género: "Há tantas crianças com fome no mundo e vocês só pensam nos animais", ou "Com tanto idoso abandonado nos hospitais, vocês preocupam-se com cães e gatos".

Immanuel Kant disse um dia que "podemos julgar o coração de um homem pela forma como ele trata os animais". Arthur Schopenhauer foi mais longe e afirmou: "A compaixão pelos animais está intimamente ligada à bondade de carácter…quem é cruel com os animais, não pode ser um bom homem". E foi para punir a crueldade que entrou hoje em vigor a lei que criminaliza o abandono e os maus tratos a animais domésticos.

Quando a lei foi aprovada no Parlamento, apesar das reticências de alguns partidos, a sociedade civil congratulou-se com o feito. Pela primeira vez, a lei deixa de olhar para os animais domésticos como meras "coisas" sem quaisquer direitos. A partir de agora, quem infligir mais tratos físicos a um animal de companhia é punido com pena de prisão até um ano ou pena de multa até 120 dias, que se agrava para prisão até dois anos e multa até 240 dias caso a agressão resulte na morte ou na privação de "importante órgão ou membro" do animal. Quem abandonar um animal de companhia incorre numa pena de prisão até seis meses ou pena de multa até 60 dias.

Podemos dizer que este é o primeiro passo para a mudança de mentalidades em relação aos animais de estimação, principalmente se tivermos em conta o peso que estes têm, cada vez mais, nas novas famílias modernas. Há quem diga que cães e gatos são os "novos filhos" num país onde a taxa de natalidade é cada vez mais reduzida.

Mas será que esta lei vai ajudar a prevenir o abandono ou, pelo contrário, vai fazer apenas com que os animais sejam abandonados nas ruas, nas estradas, em vez de entregues em canis e associações de protecção de animais? Ao ver a peça da RTP sobre a entrada em vigor da nova lei e ouvir uma veterinária explicar como se vai processar, a partir de agora, a identificação dos donos que abandonam os seus fiéis amigos nos canis, assaltou-me esta preocupação, é o lado perverso da lei.

Angustia-me pensar que uma lei que foi feita para proteger seres indefesos terá, muito provavelmente, um efeito preverso e contribuirá para aumentar o número de animais errantes, atropelados, feridos, doentes e famintos nas ruas, o que acaba por se tornar um problema de saúde pública e, em última instância, fará aumentar o número negro de abates nos canis portugueses, cujo número anual ronda já os 100 mil animais.

Não consigo encontrar uma solução para este problema, confesso, a não ser a aposta na educação cívica dos cidadãos, desde que nascem até que morrem, para a importância e os benefícios que os animais de estimação trazem, principalmente em termos de saúde. Estudos comprovam que os animais ajudam a diminuir estados depressivos e aumentam a qualidade de vida dos seus donos. Se assim é, porque os abandonam? Até os sem-abrigo são mais fiéis aos seu fiel amigo do que quem compra um cachorrinho da raça XPTO só porque a criancinha quer e, quando cresce e impede as férias na Tailândia, é atirado para um canil sem dó nem piedade.

A lei da criminalização dos maus tratos e abandono a animais de companhia entra em vigor hoje, mas quem acredita mesmo que alguém seja preso durante seis meses por abadonar um cão quando as prisões estão sobrelotadas e quando outro tipo de criminosos saem em liberdade todos os dias? É sabido que penas inferiores a quatro anos de prisão raramente resultam em prisão efectiva, principalmente se o réu for primário. Ficam com pena suspensa e lá vão eles à sua vidinha, como se nada fosse. Se calhar deveríamos mudar a forma como as penas são aplicadas e, nestes casos, aplicarmos uma medida ainda pouco usada em Portugal, o serviço comunitário, neste caso em canis. As associações agradecem a ajuda extra e o sistema judicial contribui para a educação cívica destas pessoas que, como dizia Schopenhauer "não podem ser bons homens", mas podem aprender a sê-lo.

O Genice foi vítima de maus tratos. Foi resgatado e terminou os seus dias numa casa onde era bem tratado.



Sob o signo do guarda-chuva

  
No outro lado do mundo, há um país onde hoje é feriado. E, numa determinada região desse país, este vai ser comemorado de uma forma muito especial, talvez até histórica. Há vários dias que milhares de pessoas ocupam as principais ruas de Hong-Kong, num protesto que começou por ser estudantil e a que muitos já chamam de revolução. A revolução do guarda-chuva.

Quero que saibam que não são as razões políticas deste protesto que me trazem aqui, nem tão pouco irei pronunciar-me sobre tal, mas antes, a minhas razões emocionais e, principalmente, umbilicais.

Já estive várias vezes em Hong-Kong e parte de mim está lá. Os relatos pessoais chegam-me várias vezes ao dia. Por Facebook, por fotos no Instagram, por mensagens a descansar um coração que vive entre a emoção dos acontecimentos e a incógnita do dia de amanhã.

Deixo-me levar pelos estudantes que continuam a fazer os seus trabalhos escolares, sentados no asfalto, surpreender com os impensáveis pedidos de desculpa pelas barricadas físicas, emocionar com a mobilização da população que distribui água, refeições e roupa aos protestantes.






Debaixo do guarda-chuva, vai uma cidade que, maior do que a sua grandeza, é a grandiosidade dos que lá vivem.

E, hoje, eu só queria estar ao lado da Joana, do Simon, da Mónica, do Marcos. Viver com eles estes dias. Partilhar a dúvida de ficar em casa ou sair à rua. Acordar de manhã e saber se as ruas onde passam, todos os dias, continuam iguais. Adormecer na incerteza do dia seguinte.








O futuro da blogosfera é das mulheres?

Confesso que fiquei intrigado logo na primeira aula do curso "um blogue de sucesso", com o Ricardo Martins Pereira, aka "O Arrumadinho". E perguntam vocês: Porque ficaste intrigado? Porque estou numa Sala de aula com 13 alunos onde apenas 2 são homens! 

Porque será que isto acontece? Porque as mulheres procuram mais formação? Porque o Arrumadinho é um sex symbol? Porque os homens são muito "machos" e sabem tudo logo não necessitam de formação? Bem, o que sei é que estou em muito boa companhia e que há projectos muito interessantes. Se o futuro da blogosfera é das mulheres, sinceramente não sei, mas espero que algum do futuro desta passe por alguns destes formandos, homens incluídos ;)

Aqui fica uma foto do pessoal: http://instagram.com/p/tlKCGeq7zc/

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Até amanhã, avó!

Ver-te a agonizar com dores na cama daquele hospital, naquela sala tão impessoal, tão fria, tão desconfortável, é uma imagem que nunca esquecerei, e que neste momento me dói mais do que conseguirei, algum dia, expressar. Sinto que falta muito pouco para partires avozinha, e infelizmente não tenho como o evitar, nem como te ajudar. Sou absolutamente impotente perante o ciclo da vida.
Se acreditasse em Deus, dir-te-ia que ele andava a chamar por ti, para que descansasses e espalhasses sobre a humanidade esse teu amor exacerbado, levado sempre ao limite, e vivido da única forma que ele faz sentido: incondicionalmente. Se acreditasse, dir-te-ia que Ele te estava a chamar para que tocasses outras vidas da mesma forma que tocaste as nossas, derramando nelas a bondade, generosidade (e como és generosa!), tolerância, compreensão, respeito e essa tua imensa sabedoria. Mas como sabes eu não sou crente, e assim, o único consolo que me resta é saber que viveste uma vida feliz, sempre junto daqueles que amaste, e que te amam da mesma forma que os amas e amarás.

Escrevo-te agora avó, porque sempre gostaste que eu escrevesse, e apesar de a vida não te ter dado a oportunidade de aprenderes a ler o que escrevi,  sempre foste aquela que melhor o entendeu. Lias com o coração não era?
Lembro-me como os teus olhos sorriam'e o teu sorriso brilhava, quando pedias ao avô que te lesse os meus textos e poemas. Lembro-me de me dizeres que tudo o que eu escrevia era "muito bonito". Às vezes não era. Mas para ti, sê-lo-á sempre. 

Lembro-me agora de tantas outras coisas. Das bolas de berlim com que adoçaste todos os dias da minha infância, dos teus abraços e beijos "curadores" nas feridas que resultavam das quedas na bicicleta. Se fechar os olhos, ainda ouço a tua voz a chamar por mim, enquanto eu brincava escondida pelos matos e silvados do teu bairro com os meus amigos: "Catarinita, onde estás?" 

Lembro-me de que, já adolescente, me querias ensinar a rezar. Se tivesse aprendido, hoje pediria a Deus e aos Santos que te tirassem as dores que estás a sentir, e curassem o teu coraçãozinho e os teus pulmões. Pedir-Lhe-ia que não te deixassem sofrer. 
Por essa altura, também me quiseste ensinar a tricotar. E eu também não quis aprender. Disse-te tantas vezes que não gostava de tricot, e ainda assim perdeste meses a fio a tricotar uma colcha para pores no meu enxoval. Naquele enxoval que fizeste durante anos, guardaste numa mala que compraste para mim, e que eu não quis, nem levei.

Lembro-me que no dia em que completei 18 anos estavas muito feliz com o presente que tu e o avô me iam dar. Eu delirei quando vi o livro do código e o cheque para tirar a carta de condução. Também me lembro que passados 4 anos me disseste que os meus pais me iam dar um grande presente. E dessa vez, não me disseste qual era. Logo tu, que não tens segredos, e que por isso, os partilhas, como partilhas as panelas do teu caldo verde, que sabes fazer como ninguém.

Lembro-me de ti orgulhosa no papel de minha madrinha de curso, e das lágrimas que choraste quando colocaste a minha fita de jornalismo na tina da queima. 

Viste-me nascer e crescer, e eu tenho de te dizer que cresci muito feliz ao teu lado. E se sou como sou, com todos os meus defeitos e virtudes, sou-o porque também me ensinaste a ser assim. 
E como sou assim, só sei amar-te. Hoje e sempre.

Até amanhã, avozinha.
Lá estarei para te mimar, como mereces. Se não conseguires falar comigo, eu ficarei a segurar a tua mão.
Mas escuta avó, eu sei que o local do nosso encontro não é muito bonito, mas se conseguires não faltes, porque à hora marcada eu estarei lá.

Muitos beijos
Tua


Catarinita  

Dois tratores e uma ceifeira


A razão da escolha deste curso - Como criar um blog de sucesso - tem a ver com o negócio da nossa empresa, uma revista de máquinas agrícolas.

Precisamos de um blog para estarmos mais perto dos nossos leitores e colmatar o largo intervalo de publicação da revista.



Achei muito interessante quando o Ricardo falou, numa das aulas, acerca das revistas de moda (em papel) e do modo como têm que se reinventar para não ficarem atrás dos sites, blogs e revistas digitais em que as notícias são dadas ao segundo. Deixou-me a pensar.
Talvez por haver pouca informação, em português, na área das máquinas agrícolas ainda não tenhamos sentido essa concorrência da internet versus papel mas sabemos que esse tempo chegará.



Nesse blog a minha contribuição será essencialmente na área da imagem.




sábado, 27 de setembro de 2014

Faz hoje três semanas...

...que tive um acidente de carro que me ia matando. Era a primeira noite de chuva e eu tinha saído para jantar na casa de uma amiga. Não quis sair de casa dela muito tarde. A estrada estava molhada e eu achava que quanto mais tarde voltasse para casa pior seria.

Ia com todo o cuidado do mundo, a percorrer a 2.ª circular, quando uma carrinha me abalroou o carro. Minutos depois, uma segunda carrinha voltou a bater no meu carro, que tinha ficado no meio da estrada, e levou-o a enfaixar-se contra o separador central. E eu aos trambolhões dentro do carro. Veio o INEM, os bombeiros a polícia e eu fui para o hospital.

Eu sobrevivi a este filme de terror e ainda hoje não percebo como. Percebo só, com alguma dificuldade, que aquele não foi o cenário da minha morte. Não foi aquele o momento. Muitos disseram: "como sobreviveste àquilo?" Eu respondi sempre: Foi milagre! E eu nem acredito em milagres.

Escolhi hoje o meu novo carro. Espero que venha envolto em milagres! 

Verão. Soube a tão pouco este ano.




AS 3 BÊNÇÃOS

Quando decidi dar início ao registo das 3 bênçãos diárias, a minha pergunta foi: como é que vou descobrir 3 coisas boas num dia? Numa semana, num mês, ainda pode ser, mas num dia, todos os dias, durante 7 dias. Vinte e uma coisas boas…Como?
Nesta vida tão cheia de obrigações, onde os tempos estão todos contados, onde as listas de To DOs povoam os dias numa busca permanente pela eficácia e eficiência. Concluímos uma tarefa para dar logo inicio a outra, ou por vezes nem a concluímos, adiamos, para retoma-la numa outra ocasião, no mesmo dia, no dia seguinte ou daí a um mês. Numa sequência infernal onde a pergunta que mais povoa a mente é: e a seguir? 
Como? Preparei o cenário: caderno e caneta na mesa-de-cabeceira. Ultima tarefa do dia, escrever as 3 bênçãos!
Primeira noite: Assim de repente, nada! - Havia que procurar melhor, seguiu-se o escrutínio do dia e lá se encontraram 3 coisas boas. Coisas simples. Tinham de aparecer, até porque a falta delas levaria a outra questão bem mais difícil de responder. Resolvido!
Nas noites seguintes os registos continuaram com coisas ou acontecimentos simples, repetidos ou novos, sempre singelos. Foi inevitável que de 3 passassem a 5, a 10, …. Extraordinário como as coisas e os acontecimentos passam por nós sem nos apercebermos, sem os valorizarmos.
A consciência deste facto obrigou-me a estar mais atenta ao desenrolar do meu dia e rapidamente as bênçãos começaram a ser identificas no exato momento em que aconteciam. O prazer desse momento era imediatamente integrado de uma forma consciente e o registo dele remetido para o fim desse mesmo dia.
Passei a demorar-me mais tempo nesses momentos, sem pressa para passar ao seguinte. O que não fosse feito hoje seria amanhã, ou depois. Em um ou outro momento da minha vida suspeitei que vivia depressa, procurava descansar, mas logo o quotidiano me levava de volta ao ritmo infernal. Vivemos todos depressa demais.

A então suspeita é agora uma certeza que pede ação, que pede mudança. Pede que os momentos e os acontecimentos não só sejam continuamente identificados (forma passiva) mas também procurados (forma ativa). 

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

14 anos depois

Estou na segunda fila, sentada na secretária, a usar o esquadro e o compasso. O professor chama-me à secretária dele. Estamos na aula de Educação Visual do nono ano. Pergunta-me, assim do nada, que profissão gostaria de ter. Respondo a gaguejar, como quase sempre. 
"- Quero ssser jojornalista.
- Jornalista? Mas gaga não pode ser jornalista! A Joana tem capacidade para muitas coisas, mas essa não me parece! Digo isto para o seu bem!"
Engoli em seco. Os meus olhos encheram-se de lágrimas, que consegui a muito custo controlar. 

Nesse dia, cheguei a casa e enfiei-me na cama vestida. Não quis comer, pela primeira vez não quis falar. A almofada ficou ensopada. Adorava ler, escrever e falar, mesmo que demorasse mais do que os outros, mesmo que fosse alvo de chacota. Punha o dedo no ar nas aulas, pronta a participar, mesmo que isso significasse chamarem-me "cobrinha". Não por ser má, longe disso. Simplesmente porque carregava nos "esses", arrastava-os nas palavras, repetia-os. 
"- Ssssssssstora, sssssserá que isso ssssssignifica..."
Risada total. Todos se riam, menos eu. Continuava com a minha pergunta. Queria saber, queria ir mais longe. Queria fazer perguntas. Era gaga e então? Era feliz, tinha amigos, tocava guitarra, cantava nos Onda Choc (sim, nos Onda Choc!), era boa aluna, tinha confiança em mim.

Mas naquele dia não. Naquele dia era um professor, do alto da sua experiência, que me aconselhava a não seguir o meu sonho, "para o meu bem". Não me lembro de pregar olho naquela noite.

"A gravar!" À voz de ação do câmara gravo o meu pivot. Limpinho. Não gaguejo, não temos de repetir. É um dos meus trabalhos. Faço reportagens, escrevo, faço locuções, sou voz off de um canal de televisão. Faço perguntas, trabalho com palavras. Escritas, ditas. Respiro fundo e a magia acontece. Não gaguejo, não quando tenho de ser "perfeita". Reservo as repetições, as palavras mal ditas e arrastadas para os outros momentos. Para a família, para os amigos, para as aulas, para momentos em que posso ser "eu", sem julgamentos.

Já me disseram que me dava charme. Desatei-me a rir. Não comprei o elogio, mas ri-me. Agora rio-me. Rio-me quando me lembro que tinha de bater na minha perna, da forma mais discreta possível, para desbloquear uma palavra que ficava presa na língua. Mas rio-me principalmente porque hoje, 14 anos depois, sou aquilo que queria ser quando estava sentada na segunda fila daquela aula, a usar a régua e o esquadro. 

Freddy Sucata

Não sei o que pensar sobre o Freddy Sucata. Apesar de ele ainda não existir, já consigo adivinhar a sua personalidade. É impossível resistir aos seus inúmeros desencantos: rude; mordaz; inconveniente. A sua arrogância apenas encontra paralelo no seu profundo conhecimento sobre a arte da bijuteria. Afinal de contas, a sua vida é o ferro-velho no qual nasceu. Os seus brinquedos foram o latão e o estanho. Por vezes até ouro e prata. Ninguém imagina os tesouros que se encontram numa sucata.

O Fredy Sucata é apenas a personagem que escreve num blog sério sobre bijuteria. Poderão ambos coexistir? Será possível criar um blog de sucesso sobre bijuteria tendo como narrador semelhante figura? Até que ponto a credibilidade de um blog, enquanto referência numa determinada área, é afectada pelo trejeito da personagem que o conduz? O Freddy Sucata poderá existir? Poderemos dissociar a qualidade do conteúdo da irascível personagem?

Freddy Sucata: Vida ou Morte?


Surpresa... (Ou qualquer outra coisa parecida com amnésia)

Diz que a vida é uma caixinha de surpresas. 
Afinal eu tinha um blogue. O blogue existia desde 2007 e tinha apenas 2 posts, sendo que um deles era um lençol de texto. Na verdade, eram 6 textos publicados de uma assentada só.
O curioso é que eu apanhei um susto daqueles! Não me lembro de o ter criado, não me lembro de ter escrito e publicado nele, e cheguei mesmo a duvidar que ele fosse meu. 
Mas quando o li, percebi que aqueles textos tinham a minha identidade. Para além de me ter reconhecido no estilo de escrita, encontrei neles expressões que ainda hoje fazem parte do meu léxico, e outras "coisas" que adoro escrever em tudo o que for cadernos e moleskines.
E de repente recuei 7 anos na minha vida.

Sim. Escrevi aqueles textos. 
Mas não! Não me lembro de os ter publicado, nem da existência de nenhum blogue que tenha criado.

Como diria o grande Fernando Pessa: "e esta, hein?" 





quinta-feira, 25 de setembro de 2014

A Perna Fina

Desde miúda que oiço dizer: “Ai menina, és da família dos Perna Fina!” E eu ouvia e não percebia por que me diziam tal coisa! Eu, que desde que me conheço luto para afinar as pernas (e todas as outras partes do meu corpo), achava que estavam verdadeiramente loucos.

Sou duma família que nasceu na Lousã, perto de Coimbra, cujos membros são conhecidos por ter um caráter muito peculiar. São também conhecidos por ter uns corpos estranhíssimos, com pernas muito finas. Daí o nome. Sou efetivamente uma Perna Fina de feitio. Apenas e só. Quanto às minhas pernas… Hum! Já viram melhores e piores dias!

O blogue da Perna Fina é a materialização do meu dia a dia na luta por umas pernas menos grossas, pensamentos largos, desejos gordos, aspirações cheias e uma ou outra tristeza mais magrela.

Perna Fina

O dia em que as calças deixaram de me servir

São seis e meia da manhã, o despertador toca. Ainda meio a dormir, dirijo-me para o roupeiro em busca de algo para vestir. Mexo, remexo e apercebo-me de que não tenho nada para vestir (apesar de o varão mal aguentar com tanto peso e as gavetas terem dificuldade em fechar).

Tiro umas calças e uma camisola que me parecem, àquela hora, combinarem, e visto-me. Mas algo se passa com as calças. Estou com dificuldade em as fazer passar pelas coxas. "Mau, mas isto encolheu na lavagem?", penso. Regresso ao roupeiro e escolho novo par de calças. Visto-as, mas logo as dispo, porque vai ser impossível conseguir mexer-me com aquelas calças, mal as consegui abotoar.

Já irritada e bem acordada, escolho novo par de calças, aquelas que não gostava muito de usar porque estavam larguíssimas e até abotoadas as conseguia despir e, milagre, estão perfeitas! Vestida, entro na casa-de-banho e vejo a balança fantástica que comprei há dez anos e que não uso há uns cinco, vantagens de nunca ter tido problemas com o peso, afinal, raramente conseguia atingir os 50kg, apesar de comer "como uma lontra". Arrisco e vou em busca de pilhas. "Já não me peso há tanto tempo, deixa lá ver com quantos quilos estou. Já sei que nunca passo os 50kg, é mesmo só por curiosidade", pensa o meu ego.

Hoje percebi perfeitamente aquele cartoon da menina que diz ao amigo: "Não pises nisso, porque de cada vez que a minha mãe o faz, chora." 54,3kg?! Como raios engordei cinco quilos?! Eu não posso estar ,com 54,3kg! Quando é que isto aconteceu?! Eu NUNCA consigo chegar aos 50kg!

Dou voltas à cabeça a pensar no que poderá ter acontecido. Não fiz nada de diferente, continuo a comer da mesma forma. Talvez com menos frequência, é verdade, mas isso sempre contribuíu para eu emagrecer, nunca para engordar. Como a mesma quantidade que comia (que é como quem diz, um pernil de porco, com batatas, salada e sobremesa), continuo a não ser fã de doces (excepto das farturas... o que eu não dava por uma farturinha agora. Mas, em minha defesa, como farturas todas as semanas desde pequena, por isso não estou a mudar nada na mesma).

Afinal, como é que engordei cinco quilos? E eis que, no fundo da minha mente, uma vozinha diz: "Lembraste quando te diziam para aproveitares enquanto podias? Quando afirmavam 'eu, quando tinha a tua idade, também pesava 45kg, mas depois dos 30 anos, acabou-se'". Algo de errado se passa, eu já passei dos trinta há quatro anos e o meu peso nunca mudou. Não pode ser disso. Nunca, até agora.

Como os tempos não estão para mudar todo um guarda-roupa - pelo menos enquanto não aterrar em Nova Iorque e, até lá, tenho de vestir alguma coisa - e eu VOU voltar a usar as calças todas que estão no armário, é melhor começar a resolver o assunto: inscrever no ginásio, controlar o que como, reduzir os fritos, beber uns sumos detox, fazer dieta. Mas, antes, acho que vou só ali à pastelaria comer uma bolinha de berlim, apetece-me "algo doce". Logo começo a dieta amanhã.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Sobre desistir

Fui ensinada que não devemos desistir. Pelos meus pais, pela sociedade que vê quem desiste como um fracassado. E tenho feito exactamente o contrário.

Há cinco anos desisti de uma relação de quase oito anos e encontrei o Amor da minha Vida. Há três meses desisti de um emprego vazio e encontrei a vontade de estudar. Ao longo dos anos tenho desistido de muitas amizades que se revelaram sem medula e tenho encontrado pessoas de bom fundo, de bom coração, que se têm tornado parte da minha vida de um modo ou outro e sempre que me lembro delas, sorrio. Desisti de lutar contra o meu corpo e aceitei que há coisas que nunca vou poder fazer e aos trinta e quatro anos estou na minha melhor forma e faço coisas antes impensáveis.

Desisti e desistirei sempre que me der a volta ao estômago e nunca serei uma fracassada.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

O que farias se pudesses fazer qualquer coisa, sem preocupações nenhumas?

"O que farias se pudesses fazer qualquer coisa, sem quaisquer preocupações?" é uma pergunta com a qual me tenho deparado nos últimos tempos.Li-a num livro, ouvi-a numa formação, mas a verdade é que esta é uma questão à qual não queremos responder.

Porque achamos sempre que isso nunca vai acontecer, que nunca nos vai sair o Euromilhões (se, como eu, não jogarem, garanto que não sai!), que vamos continuar presos a um emprego do qual não gostamos, a uma relação que deixou de nos satisfazer, a uma rotina que é a nossa há tanto tempo que já nem sequer nos lembramos de como eram as coisas antes dela.

Esquecemo-nos que, quando nascemos, Tirámos a Senha 1 da nossa vida! Que todos os dias são um novo dia, uma nova hipótese de tirar a senha 1 e mudar o rumo da nossa vida, independentemente de para onde este nos levar.

Mas nós, os que Tirámos a Senha 1, estamos já a responder à pergunta: "O que farias se pudesses fazer qualquer coisa, sem quaisquer preocupações?". Eu sei o que faria, e vocês?

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Boa Noite

Amanhã é já depois de hoje e tão pouco de hoje resta até amanhã. Começo antes que seja tarde de mais o que possa ser já tarde para os demais começarem. É uma tortura ter de o fazer, mas quando feito já não me torturarei mais. Escrever aqui é trair quem me lê e mesmo no pouco que escrevo, traio aqui quem ali me lê.

O que costumo escrever já está escrito por costume. Persegue-me durante o dia e continua pelo dia que se segue. Sou apenas eu e não uma personagem dos muitos eu que personifico. Escrevo a trágica melancolia da comédia na cómica tragédia que é a melancolia. Não sou refém de um tema definido e por definição sou a própria temática.

Não brinco assim com as palavras embora isto soe a brincadeira apalavrada. Traquinice de miúdo que é traquinas amiúde. Apresento-me verdadeiramente no colchão de água mas terminada agora esta breve apresentação, bebo um copo de água, digo boa noite e vou para o meu colchão.





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O meu primeiro post


É oficial, sou blogger, ou seja, publiquei o meu primeiro post.
Isto remete-me a duas questões:
- O que é um post?
- O que é publicar?

Um post é um aviso, uma notificação, algo escrito num local público, neste caso, num blogue. Publicar é o acto de tornar público, de afirmar publicamente, e o blog é publico. Assim, verifica-se que é verdade que publiquei o meu primeiro post J

Já agora, um blog, é uma palavra inglesa, de web log, ou seja, um diário da web. Basicamente é uma página na internet onde se publicam posts cronologicamente. Os blogs podem ser individuais ou colectivos, isto é, ter uma ou mais pessoas a publicar no blog.

Dito isto, julgo ser notório que não tinha nenhum objectivo específico na mensagem a passar-vos, a não ser dizer: Posto, logo sou blogger!